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sábado, 27 de março de 2010
Especial 100 anos de Chico Xavier
Globo Reporter - 26/03/2010
Cartas psicografadas levam conforto para quem perdeu parente
Mensagens de Chico aliviaram a dor e o luto de milhões de brasileiros. Ainda hoje, pessoas que perderam parentes queridos lotam os centros espíritas à espera de uma palavra.
Um autor com 400 livros publicados, mais de 50 milhões de exemplares vendidos e nenhuma linha redigida por ele mesmo. “Quem escreve, são os espíritos”, dizia Chico. Ele apenas ouvia vozes que ditavam e reproduzia tudo com uma rapidez espantosa.
A psicografia tornou famoso o médium de Uberaba, portador de obras inacreditáveis e de mensagens que aliviaram a dor e o luto de milhões de brasileiros. Ainda hoje, pessoas que perderam parentes queridos lotam os centros espíritas à espera de uma palavra, em Uberaba.
“É muito difícil a gente perder um filho com 21 anos, um menino que gostava de viver plenamente, um filho sem vícios, um filho carinhoso”, diz a funcionária pública Rosane da Silva Denadai.
O casal Marco Antonio e Ana Lucia Davanzo são do Guarujá. O filho deles, Ivan, morreu há mais de quatro anos. “A vida perde o brilho. Você não acha graça em mais nada. Você acha que você nunca mais vai sorrir, nunca mais vai ser feliz”, conta a dona de casa Ana Lúcia Davanzo.
A assistente social Rosana Ozarias Machado ficou sem a mãe. “É um amor tão grande que doía e dói até hoje”, revela.
E eles também ficaram órfãos de Chico Xavier. Quando o médium era vivo, atraia multidões de aflitos. Era incansável, passava mais de oito horas seguidas psicografando. Mas como explicar essa estranha capacidade? Para a ciência, a mediunidade de Chico Xavier permanece um mistério.
“Os fenômenos espirituais mediúnicos do Chico são de uma variedade, de uma diversidade e de uma qualidade extremamente impressionantes. Mas infelizmente ele foi pouco estudado”, diz a professor de psiquiatria Alexander Moreira Almeida, da Universidade Federal de Juiz de For a (UFJF).
A Associação Médica Espírita e o jornal “Folha Espírita de São Paulo” realizaram a única análise já feita das cartas psicografadas de Chico Xavier. Eles pesquisaram 45 casos. “A grande maioria da pesquisa revelou que o Chico desconhecia completamente essas pessoas, mais de 90% dessas pessoas”, explica o professor e pesquisador Paulo Rossi.
E mesmo sem conhecer as pessoas, 71% das cartas tinham mais de três fatos pessoais, coisas que Chico não poderia saber. Em 42% dos casos, as assinaturas eram diferentes das originais. Mas todas as mensagens foram reconhecidas e autenticadas por mais de duas pessoas da família.
Chico era incansável. Mesmo doente e já idoso, não deixava ninguém sem resposta.
“Tenho aprendido, nesse tempo todo, que a mensagem é um fator de informação segura para reconforto e condução espiritual da criatura dentro do seu próprio lar e dentro do seu grupo social”, disse Chico, quando ainda era vivo.
Dois antigos parceiros do médium tentam, hoje, preencher o vazio deixado pelo mestre.
“Chico era uma fonte de sabedoria”, declara o médium Carlos Baccelli. “Lógico que eu amo minha mãe mais do que eu amo o Chico, mas eu não posso dizer que minha mãe me ensinou tanto quanto o Chico Xavier me ensinou”, afirma o médium Celso Afonso.
Seriam eles sucessores de Chico Xavier? “Chico Xavier não tem substitutos, não tem sucessores. Cada um de nós, médiuns, cumpre o seu trabalho, faz o que pode, dentro de suas limitações”, diz Carlos Baccelli.
“Eu não dou conta de amar o quanto ele amou. Eu não dou conta de trabalhar o quanto ele trabalhou. Eu não dou conta de tolerar o quanto ele tolerou. Então, como eu vou ter essa pretensão”, reconhece Celso Afonso.
O casal Marco Antonio e Ana Lucia já completou 14 viagens a Uberaba, em busca das mensagens do filho. Desta vez, eles foram com a filha e as netas. Chegaria mais uma mensagem do filho? Para alívio deles, a primeira carta tinha endereço certo.
Para eles não há duvidas: foi o filho que escreveu. “É dele mesmo, tenho a certeza absoluta. Depois, vêm nomes que só nós sabemos”, destaca a dona de casa. “Tem nomes às vezes até difíceis de escrever e de pronunciar”, confirma o marido.
A funcionária pública Rosane da Silva Denadai explode em lágrimas quando é chamada. “O que ele falou, citando nomes, os avós. Quem ia saber o nome dos avós dele”, afirma.
A assistente social Rosana Ozarias Machado também chora muito. “Eu senti a mesma emoção quando ela faleceu, mas hoje foi de alegria”, comenta. Ela tem certeza de que foi a mãe que escreveu a carta. “Eu não duvidei um minuto de que não fosse a minha mãe de que não fossem as palavras da minha mãe”, aposta.
Rosane que tem outros três filhos até hoje não se conforma com a perda de Anderson. “eu acho que nunca vou me acalmar”, diz.
Mas as palavras que seriam do filho começam a trazer paz. E ela afirma que vai voltar a Uberaba outras vezes. “Porque eu sempre falo: ‘mãe é aquela que gosta de saber onde o filho está, como ele está, onde ele está’”, afirma a funcionária pública.
Fonte: Globo Reporter