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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Carta de Laurinho Basile: "Libertação"

Mamãe querida.
Seu filho pede a bênção.
Saudades condensadas dão isso. Uma vontade imensa de mostrar amor.
Entretanto, ausência para nós já era. Estamos naquela da união para sempre. Morte mais se parece a um espantalho na lavoura.
Enquanto a Maturidade não chegar para o coletivo das criaturas, é preciso pintar essa abertura com sinais que metam medo. Isso é lei de Deus. Instinto de conservação. Defesa comum.
Se todas as pessoas, de uma só vez, pudessem compreender a chamada Libertação, é muita gente que desejaria pirandelar.
E fuga não é flor que se cheire. Pos aí, somos obrigados, para a nossa felicidade, a enfrentar a pedreira e rebater a picareta sem picaretagem. Trabalhar e aprender.
O corpo não é farda de que se possa desertar por bagatela. A morte precisa dessas pompas de cores estranhas e rituais encharcados de lágrimas. Semelhante indução ao receio é necessária, porque são muitos os cultivadores do capim mimoso querendo arrear o fardo educativo antes da hora.
Mas retomemos o fio. Mamãe agradeço.
Estou quase feliz, não fosse o muro. O muro vibratório que aparentemente nos segrega em faixas diferentes da força.
Reencarnação do espírito, a meu ver, se não estou dando alguma de curioso frustrado, é o mesmo que a pessoa se colocar numa espécie de voltagem diversa daquela que conhecemos por aqui.
Tudo é posicionamento elétrico, ou quase tudo, no campo de nossas vidas. O cérebro de alguém, no carro físico, está em circuito diferente para nós tanto quanto nós temos a cabeça instalada em outras dimensões da energia.
No meio dessas ramificações todas, com transformadores e conexões adequadas por toda parte, o coração é o amor e amor independe de quaisquer implementos para expressar-se.
Em razão disso, estamos nós na reciprocidade.
Eu penso e você pensa, você pensa e eu penso, isto é, conjugamos os mesmos sentimentos em cuja equação as idéias somam igualmente. Sei. Não precisaria escrever para que o seu carinho me reconhecesse na sobrevivência em que antecedi a vivencia de tantos.
A empatia é o nosso clima, tanto quanto a comunhão intima é o nosso lar.
Continuo e continuamos, você e eu, agradecendo. Temos sido muito felizes, dialogando com tantos amigos de varias faixas etárias. Creia. Temos falado juntos.
Peço a sua paciência e prossigamos em marcha. É muita juventude perguntando, muita infância a desesperar-se, muita madureza a desfazer-se em pranto e aflição.
A hora é mesmo de permuta.
Comunicação inadiável. E o importante é que essa comunicação é de fio pessoal.
Fácil observar para nós dois que, criatura a criatura, a mensagem pede adequação. A verdade é uma só, no entanto, a interpretação é serviço indispensável no domínio de cada um.
Estou agradecido ao seu esforço. Mãe querida, isso tudo é um campo novo para nós.
Você me percebe e me ouve sem que os tímpanos do corpo registrem minha voz. Isso me alegra, porque afinizados um com o outro, quais as cordas de um violino, em mãos de artistas do Mais Alto, formamos uma dupla e estamos construindo um futuro iluminado de bênçãos.
A prece é a tomada. Os pensamentos são fios que nos interligam. E a nossa palavra reflete de improviso os esclarecimentos que me alcançam, procedentes de amigos que me antecederam por aqui.
E centralizados em Deus, por Jesus Cristo, seguiremos empregando o melhor que pudermos, na formação de caminhos para os que se perderam da estrada real, às vezes marginalizados na revolta e no sofrimento.
Você e eu, juntos, responderemos ao conteúdo da Gaveta da Esperança.
Tantas bênçãos, tantos recados de carinho! Gratidão para todos os corações queridos.
Minha emoção é tamanha que, freqüentemente, a lágrima de enternecimento é a resposta que se nos fez possível. A bendita lágrima do amor, síntese de saudade e ternura, convivência e devotamento constante.
De meu lado, querida Mãezinha, informo que estou vivo. Se me perguntarem como, formularei a contra pergunta: de que modo morre a água na Terra a fim de pairar no Espaço, em estado positivamente oposto ao sólido em que a vemos no mundo?
Pois é. A água também morre e sobrevive e igualmente retorna ao campo dos homens, na incapacidade de demonstrar às balanças terrestres de que maneira se gazificou esse rematerializou na chuva benéfica, nas ocasiões em que não se volatiza, de todo, para integrar-se em outras substancias da vida cósmica.
A realidade é que eu mesmo, continuando a agir e aprendendo a servir para ser aproveitado com mais eficiência na maquina do bem de todos.
Sigo o nosso querido pescador em suas preces que são também minhas, rogando aos Mensageiros de Jesus para que meu pai esteja sob as bênçãos de Deus.
Em casa, rejubilo-me com a tranqüilidade que se vai refazendo...
Ra e Shell com a querida Menesta e com o Josetinho e os outros corações amados me proporcionam imensa alegria.
Yo e Petar com Gus e Guil e mais o pessoal entrante ou aspirante à entrada na família, são maravilhosos companheiros. Mirta e Lu são as estrelas novas em explosões de esperança e de alegria. Todo o amor para ambas.
Peço a Lu compreensão para a Pupy.
Aquele coração de carinho, pulsando sobre as patinhas não sabia ler. Por mais se lhe dissesse o que, por enquanto se lhe diga a linguagem filosófica dos que se separaram entre lágrimas e inquietações, nas fronteiras da morte e da existência, nada lhe atingiria a sensibilidade e nem lhe abordará, por agora, o entendimento simples.
A querida companheirinha não tem ainda forças para entender que não há Vazio.
E carência, Mamãe, quando não aceita sob a luz da fé em nossos mais elevados destinos, é anemia da alma. “Pingo d’água mole em pedra dura...”
De cá, entretanto, teremos recursos para auxiliá-la, mas isso, por enquanto, é uma oura historia. Se muitos não entendem os assuntos de Laurinho sobrevivente, como assimilarão certas realidades sobe os animais, especialmente aqueles que se nos fazem mais íntimos e mais queridos?
Muitas flores de carinho para a Vó Lourdes e Vó Genoveva extensivamente do avô inesquecível.
O vovô de residência em meus ranchos de agora, está comigo. Companheiro e benfeitor, com quem meus débitos vão subindo.
A proposta do Toninho é quase uma cascata.
Imagine se eu pudesse complementar um computador em nossa querida paisagem, seria um clandestino nas instituições de ciência no mundo.
Depois de uma palavra no domínio das probabilidades, porque, em verdade, sou, até agora, um Laurinho tão experimentador quanto antes, na hipótese de acertar, levantaria horrores de indagações.
Naturalmente, companheiros de pesquisa me mobilizaram para resolver problemas da Humanidade, com tal impacto de confiança que eu mesmo terminaria a aventura no caso do peão que caiu de modo sesquipedal, depois de ouvir aqueles que lhe superestimavam os méritos.
Não posso colocar o carro antes do combustível.
Devagar. A viagem de um país para outro não dá pedal para milagres. Toninho que trabalha aí que continuo a esforçar-me daqui.
Entretanto, se ele quer uma dica, procure o Sergio Pistelli, a e a Maria Beatriz que conhecemos no Eletrotécnico de Mococa e vá em frente. Se as invenções ficassem na conta de um cérebro mágico, a ciência não progrediria. E todos precisam de vez.
Presentemente mantenho a voz em outros trombones, mas o teste do Toninho está bem bolado.
Ainda assim, outra pala valiosa para o amigo é o serviço de apoio à Santa Casa.
Estou na atualidade computando outras jogadas e não posso perde a bola.
Disciplina. Essa misteriosa deusa é por demasiado exigente.
Sigamos no “Very slowly”.
Que ele me desculpe essa pretensão. É só para inglês ver.
Mãezinha, recebo os pensamentos da Selma e da Lu, de coração amolecido.
Afinal, creio hoje que nasci num ninho de estrelas e você Mamãe, com um pai, é a dona dessa prodigiosa constelação.
Meu carinho a todos. Evaldo e Tadeu, por força dos laços que nos reúnem hoje com mais peso de solidariedade, estão presentes e se fazem lembrados aos familiares queridos.
Abraços ao Pantera e a todos os Bichos admiráveis que moram no Zoológico de meu coração.
Amor pra todas as amizades, incluindo as companheiras dedicadas, meninas iluminadas de esperança às quais me sinto o irmão de sempre.
Mamãe, agora, é o fim da carta.
Quantas laudas neste processo de saudade e carinho? Ainda não sei. Conte-as a querida Barata sempre minha inspiração e luz, Vida e mestra.
Se me esqueci de nomes de nossa intimidade, isso é milonga de papo amigo, porque tenho o meu listão na memória, mas não posso estirá-lo aqui  no papel.
Você Mamãe, dirá a todos, os meus amigos, que enviamos lembranças  e um abração de fraternidade. Lembro o papai em minha gratidão e ternura de filho e entrego pra Você o meu coração.
Amor infalível e devoção total de seu filho

Laurinho.

Uberaba, 19 de junho de 1978


IDENTIFICAÇÕES

Nesta carta, Laurinho se refere à chamada “Libertação”, esclarecendo que, se a pudéssemos compreender muita gente haveria de querer partir.
Mas essa partida não pode ser por nossa vontade, porém pelos desígnios de Deus. Do contrario, seriamos suicidas, e estes, para cumprirem o tempo que deveriam permanecer na Terra, vão para um lugar nada agradável chamado “Umbral”.
*
Adiante, afirma Laurinho: “É centralizados em Deus por Jesus Cristo, seguiremos empregando o melhor que pudermos na formação de caminhos para os que se perderam...”
Mães, mães desesperadas, desanimadas, confiem no Cristo! Ele estenderá sempre as mãos para todos aqueles que as solicitarem.
Ter saudade, muita saudade, é um direito de todas nós, e a saudade tende sempre a aumentar. Costumo afirmar que a saudade é a nossa maior prova neste Planeta de expiações.
Mas é preciso ganhar compreensão, equilíbrio e trabalhar para o bem comum, sem esperar retribuições. É preciso estudar muito, se aprofundar nos ensinamentos do Cristo, à luz da Doutrina Espírita, para que a razão aceite estas verdades.
Nossos filhos estão vivos, trabalhando por nós e por eles, na maquina do bem de todos.
Realmente, Laurinho reafirma: “De meu lado, Mãezinha, informo que estou vivo.”
Se pararmos para pensar, temos que agradecer a Deus por tudo isso, pois, apesar de o nosso coração continuar sangrando, o sofrimento nos abre oportunidades de renovação e aprendizado.
Mães e irmãs! Pensem em nossos filhos trabalhando em outro “continente”, pela nossa melhoria e que isso só acontece com a permissão do Mais Alto.
*
É interessante notar como Laurinho explica a reencarnação em termos eletrônicos e compara a morte com a água.
Laurinho refere-se a Pupy, a cachorrinha que, a seu ver, sendo seu melhor amigo, foi se definhando, acometida de tristeza, e partiu seis meses após sua “viagem”.
Antes de partirmos para Uberaba, em nossa casa, às sete horas e trinta minutos, Pupy encerrou sua vida.
Nessa mesma noite, vem Laurinho com esta fabulosa mensagem e confirma o diagnostico dos veterinários:  tristeza. Só que ele define como sendo “anemia na alma”.
Com tudo isto vem nos reafirmar que não há Vazio. E a Doutrina Espírita, com Jesus, vem nos conscientizar que, realmente, não existe o Vazio.
*
Também a proposta de Toninho, um jovem até aquela data materialista, foi colocada, por ele mesmo, na Gaveta da Esperança.
Com esse teste, tentou desafiar – é a palavra exata – nosso Laurinho em suas comunicações de um outro plano e recebeu ao pé da letra.
De tudo o que Laurinho escreve, dou ciência aos seus amigos, que estudam os mínimos detalhes, e não nego que tudo isso vem causando um “terremoto”, principalmente na juventude de Mococa e cidades circunvizinhas.
Não se esquecendo dos amigos, envia-lhes sempre o seu “alô” tão positivo, inspirando, cada vez mais, certeza numa Vida Maior, repleta de Fé e Amor ao próximo.
Mães e irmãs, quisera que soubessem quanta coisa Laurinho vem modificando!
A juventude é boa; falta-lhe motivação, alguém que a ouça e compreenda, que esteja disposto a falar a sua mesma língua.
Em geral, os moços nem sempre estão preocupados com o próximo; mas por aqui está acontecendo o contrario: estamos recebendo toda a cooperação em tudo o que fazemos, e com a melhor boa-vontade.
Tudo isto devemos às mensagens e aos inumeráveis livros de Chico Xavier, que rodam de mão em mão.
Louvado seja Deus! Com sua permissão, tudo continuará melhorando, se aperfeiçoando.

IDENTIFICAÇÕES:
Pupy - Cachorrinha da família, que merecia muito cuidado e carinho por parte de Laurinho. Desencarnou em junho de 1978.
Toninho - Sebastião Antonio cunha, residente à Rua Lucio Leonel n. 5, em Casa Branca. Trabalhava com Laurinho no campo das invenções. Laurinho deixou com ele o desenho de um computador, que se achava incompleto e pediu-me para obter de Laurinho a formula final. O pedido foi depositado na Gaveta de Esperança e respondido por Laurinho.
Sergio Pistelli - Grande amigo de Laurinho, exercendo o cargo de Secretario no Colégio Técnico João Baptista de Lima Figueiredo, em Mococa, SP, onde diplomou-se Laurinho. Sergio e família residem nesta cidade, à rua Ipiranga.
Maria Beatriz - Maria Beatriz L. de Oliveira – orientadora educacional do Colégio Técnico Industrial João Baptista de Lima Figueiredo, de Mococa, SP. Foi grande amiga de Laurinho.
Pantera - Antonio Borzani, residente em Casa Branca. Amigo de Laurinho, seria seu companheiro em São Carlos quando fossem cursar a Engenharia, morando juntos.


FONTE
XAVIER, F. C. Gaveta de esperança [espírito Laurinho Basile]. Araras (SP): IDE, 1980.