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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Chico Xavier e Semiótica: Dissertação de mestrado estuda cartas psicografadas com embasamento científico

Doutoranda e mestra em Linguística e Língua Portuguesa pela Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus de Araraquara (SP), Cíntia Alves da Silva é autora de uma importante dissertação que une ciência e religião: As cartas de Chico Xavier: uma análise semiótica. Seu objeto de estudo – as cartas psicografadas pelo médium mineiro – envolve uma análise criteriosa do processo de construção dos autores espirituais, com base na coerência dos fatos relatados. Atualmente, dedica-se à tese de doutorado intitulada A prática da psicografia: enunciação e memória em relatos de experiência mediúnica, um estudo mais amplo da psicografia como prática semiótica.

RIE – Como você se aproximou do Espiritismo e de que forma surgiu o interesse de defender uma dissertação de mestrado relacionada à religião?
Cíntia Alves da Silva – O meu primeiro contato com o Espiritismo se deu quando eu ainda era adolescente, aos 14 anos. Após receber de presente um volume de O Evangelho Segundo o Espiritismo, passei a me interessar pela doutrina e nunca mais parei de ler a respeito. Vinculei-me à Casa do Caminho, Instituição Espírita Cristã, de São Carlos (SP), no ano de 2008, quando cursei o COEM (Curso de Orientação e Educação Mediúnica). Desde então, a psicografia tornou-se o meu tema predileto. Nesse mesmo ano tive contato com um recorte de jornal que falava sobre a existência da AJE-SP (Associação Jurídico-Espírita do Estado de São Paulo), que à época discutia a possibilidade de se utilizar cartas psicografadas como meio de prova nos tribunais. Foi a partir desse recorte que comecei a buscar e organizar informações sobre os casos que envolviam a escrita mediúnica de Chico Xavier. O que era um hobby, inicialmente, tornou-se tema da minha pesquisa entre 2009 e 2010, quando ingressei no mestrado em Linguística e Língua Portuguesa na UNESP de Araraquara, sob a orientação do Prof. Dr. Jean Cristtus Portela. A importância sociocultural e editorial da psicografia no Brasil foi, sem dúvida, o principal motivo que me levou a considerar o estudo acadêmico desse tema.

RIE – Explique brevemente o objetivo da dissertação e a relação entre psicografia e semiótica.
Cíntia – A dissertação intitula-se As cartas de Chico Xavier: uma análise semiótica e seu objetivo principal foi o de compreender o processo de construção das autorias espirituais (ou “imagens” de enunciador) nas cartas “familiares” ou “consoladoras” escritas pelo médium. Os objetivos específicos incluíram observar se havia coerência na construção das autorias espirituais na obra psicográfica epistolar de Chico Xavier, ao longo de períodos maiores ou menores, e em que medida elas apresentariam marcas de autonomia ou individualidade que nos permitissem distingui-las umas das outras. Essas questões foram elaboradas de forma que pudéssemos refletir sobre uma ideia bastante comum entre os adeptos do Espiritismo – a de que a escrita do médium era tão fiel ao estilo dos espíritos que se comunicavam através dele, que seria possível identificar e distinguir claramente os seus autores espirituais por meio das expressões e formas de dizer que estes supostamente teriam utilizado quando vivos. A pesquisa também buscou caracterizar as cartas psicográficas como um tipo particular de texto, que se diferencia dos textos epistolares “típicos”. Além de se configurar como um gênero específico, as cartas psicografadas delineiam um percurso editorial bastante peculiar, que possibilita que elas sejam lidas e compreendidas em outros contextos, para além do centro espírita, onde é produzida. A Semiótica, concebida enquanto teoria da significação, propõe-se a explicitar conceitualmente os processos de apreensão e produção de sentido. Por essa razão, a sua escolha como perspectiva teórica nos pareceu bastante apropriada, uma vez que as nossas questões acerca da psicografia epistolar inseriam-se justamente na busca pela compreensão dos processos de construção das “identidades” espirituais a que Chico Xavier atribuía a sua escrita.