Minh
a querida madre, pater meu e minha sorela Sueli, somos presentes dando presença. E não quero começar papeando sem dar a Deus, nosso Criador e Pai, o respeito nosso.
O que há na paróquia é que vocês estão querendo aquelas conversadas de espírito de família. E acontece que na cuca do meu grupo a lembrança me bate forte. Não posso dar a silenciada; é preciso falar, porque os nossos daqui me permitem aquela boa gíria dos amizades fiéis.
As vezes, penso que é preciso acabar com essas dicas de fantasma-sorriso; mas, e a vida que é nossa? e como deixar de ser nós mesmos dentro da vida? Nesse sentido, minhas palas são melhores, estou incrementado nos estudos para retirar todos os meus grilos xexelentos. Quero carregar outra moringa nos ombros. E o negócio é esse aí: se não trabalhar, não entendo; se não entendo, não vale estudar.
Quando vim pra cá, percebi, de repente, que não passava de sabereta, embrulhando muitas lições aprendidas aí em bobagens que não tinham tamanho. Agora, vou tirando letra em muita cousa que necessito guardar em mim para ser melhor. Muita gente bem de nossas turminhas deram para pensar que sou espírito vagau perdido na marginália. Pobres meninos patetas que éramos; querendo inventar uma língua nova, complicamos os comunicados nas melhores
comunicações.
Entretanto, para Deus o sentimento é que tem valor, o coração é que fala. Posso latinizar as notícias da maneira mais sofistique, mas, se não der de mim aquela sinceridade, tou na lona da paranóia e isso eu não quero mais. Esse negócio de dar fio nas patotas que mandam fumo ou avançam no lesco-lesco dos comeretes a se arrancarem para umas e outras é perigo na certa. Quero pensamento jóia para falar mesmo, sem alinhavar as palavras fora da costura da boa gíria.
Mandem-se para cá e vocês vão ver como é duro varar o arco e virar a bola de pé pra frente no quadrado das notícias.
Assim sendo, vocês todos podem perdoar os cabeludos que vieram pra cá sem preparação, bancando caretas nas lições de Cristo. Perdão sim, porque seria difícil pra mim, falar francês, no português brasileiro, exibindo qualidades que não tenho.
De uma cousa, porém, vocês fiquem sabidos: é que já sei que trabalhar para os outros é o caminho melhor. Digo isso, embora esteja parado como nos tempos da Geografia, explicando pro professor como se vai à Guiana Inglesa sem nunca ter ido lá, nem pra inglês ver.
Já sei; isso é progresso. Disposição mesmo pra fazer o que sei, penso que só amanhã. Apesar de tudo, Sueli, digo a você: mediunidade é servir para sermos servidos. Todos precisamos de alguma cousa. Estender as mãos para o auxílio a quem sofre é o mesmo que receber outras mãos
que chegam do Alto pra carregar-nos sobre as lutas de cada dia.
Para mim, caridade é o melhor negócio da vida. A pessoa ajuda e recebe muito mais do que dá. Geralmente, querida irmã, somos alguém a servir, mas a pessoa servida representa em si um grupinho grande. E o grupinho se inclina pra nosso lado e dá uma melhorada geral em nossos caminhos. Aqui vejo muita gente fora da Terra aprendendo isso! entregando benefícios e recebendo benefícios maiores.
Não estou ensinando você a paparicar Deus com papos furados ou com caldos melosos de conversa amolecida na adulação. Estou fazendo as palas do ato, porque o assunto mais importante é agir mesmo.
Aqui está conosco o Joãozinho Alves e pede aos pais aquela confiança em Deus que não desanima; ele está melhor e mais forte. E outro amigo aqui ao lado de seu adoidado irmão é o amigo Irineu Leite da Silva, um moço do fino que vestiu o paletó de madeira em sete de junho passado. Estava eu entre aqueles que trabalhavam no Parque dos Flamboyant quando ele foi considerado de sono eterno. Mas acordou junto de nós e está bem; pede para que os pais Sérgio e Rita se consolem.
Afinal de contas essas paqueradas da morte acontecem com qualquer um. E os caras do mundo precisam contar com isso. Não queremos que ninguém morra. Queremos que todos os nossos irmãos do mundo, transitem por todos os consultórios de plástica, tirando sarro nas rugas que chegam com as janeiradas, de natalício a natalício. Desejamos que todos cheguem aqui mambeando de velhice, sem coragem de olhar pros retratos solenes de vinte ou quarenta anos de retaguarda; mas esse debi da morte é um estripitisi de amargar. Dizemos amargar porque só colocamos giló nesse assunto, com tanto choro de lado que os panos do último dia é que são mesmo de amedrontar qualquer um. Pensemos na morte com fé em Deus. Afinal de contas, aí no mundo quem dorme está sempre treinando para ressuscitar.
Meu pai, abrace Sérgio, Wilson e todos os meus sócios de pensadas e notas. Não creio que a rapaziada esteja acreditando muito no que digo. De vez em vez, escuto algum deles a dizer — “Mas esse Jair não tem jeito, não”. Mas isso é bobagem da grossa. Quem tem mesmo jeito para melhorar e consertar é só aquele Cristo, amoroso e bom de todos os dias. Mas, isso é isso. Se fosse eu o vivo da história, talvez não acreditasse no amigo morto e ficaria ainda mais vivo, se ouvisse mensagens dos que houvessem caído em algum barato do pró-terra-de-pedra e cipreste, antes de mim.
Sueli, aos corações do Grameiro, o meu “muito obrigado”; aos companheiros do Grupo de Meimei, aquela saudação embandeirada de preces pela felicidade de todos.
Agora é parar. Terei falado o que não soube dizer. Estava com saudade de dar uma falada com vocês e dei papo. Deus me perdoe, é o que peço. Entretanto, vamos deixar seriedades pra Iá e vamos dar aquele abraço da finalizada.
Pai, mamãe, Sueli, estou feliz vendo vocês unidos. Tchau pra vocês. Tudo de bom. Noite calma e tempo de bênçãos. Ponho aqui a saudade pra quebrar. Um beijão do filhote adoidado e do irmão agradecido, mas que lhes oferece nestas páginas o maior amor da paróquia.