sábado, 13 de novembro de 2010

Estreia o documentário "As Cartas Psicografadas por Chico Xavier"

As cartas psicografadas por Chico Xavier é um filme de conversas e silêncio. Mães e pais que perderam filhos, procuraram Chico, receberam cartas. Sentimentos, lembranças, imagens da falta de alguém. A procura por alento para a dor sem nome. As palavras chegam em papel manuscrito. As cartas são lidas. Sobreviver a isso, viver ainda assim. As cartas são os elos entre mães e filhos, entre Chico e essas mães e seus filhos, entre o público e o filme.

Com a participação de:

Yolanda Cezar
Nyssia Cantamessa Leão de Oliveira
Sonia e David Muszkat
Thereza de Toledo Santos
Edinah e Armando Lodi
Piedade da Silva Chapela
Maria Helena de Jesus Sonvêsso
Maura Pereira Cassiano

Direção e Roteiro: Cristiana Grumbach
Produção Executiva: Luiz Alberto Gentile
Direção de Produção: Priscila Pitta Beleli
Fotografia e Câmera: Pedro Bronz
Som Direto: Ives Rosenfeld
Pesquisa: Geraldo Pereira, Mariana Bitiato, Priscila Pitta Beleli e Tatiana Porto
Montagem: Cristiana Grumbach e Karen Akerman
Edição de Som: Mariana Barsted
Colorista: Leo Hallal
Mixagem: Damien Seth
Arte gráfica: Patricia Chueke e Phil Canedo
Mídias Digitais: Renato Damião
Equipe de Distribuição: Maurício Borges, Tathyana Genova e Flávia Milagres


Assista aqui o trailer do documentário "As Cartas Psicografadas por Chico Xavier":


Em NOVEMBRO nos cinemas.
FONTE: Site oficial do filme

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A psicografia de Chico Xavier em dois casos notórios

A vida de Chico Xavier foi marcada por acontecimentos polêmicos e, para muitos, inacreditáveis. Suas psicografias não eram assinadas apenas por renomados escritores e poetas já falecidos, mas também por gente que buscava, por meio de relatos além-túmulo, esclarecer acontecimentos ocorridos na Terra.

Alguns desses relatos foram levados em conta em tribunais de Justiça, marcando a história do País. Foi o que aconteceu em Goiânia, em maio de 1976. Uma mensagem psicografada por Chico Xavier, assinada por uma pessoa morta, foi utilizada pela primeira vez como prova para inocentar um réu.

Tudo começou quando a família de Maurício Garcez Henrique, morto aos 16 anos, foi ao encontro de Chico Xavier, a pedido do médium. Chico havia recebido uma carta do jovem na qual Maurício contava que a sua morte havia sido acidental. Na carta, Maurício contou que ele e o amigo José Divino Nunes – acusado de assassiná-lo – estavam brincando quando a arma disparou.

Os pais de Maurício ficaram impressionados, mas comprovaram a legitimidade da mensagem, que foi anexada às provas do processo. Em 16 de julho de 1979, o juiz Orimar de Bastos proferiu a sentença, inocentando José Divino Nunes, de 18 anos: “Temos de dar credibilidade à mensagem de Chico Xavier, apesar de a Justiça ainda não ter merecido nada igual, em que a própria vítima, após a sua morte, vem revelar e fornecer dados ao julgador para sentenciar”, lê-se na sentença do juiz.

Assassinato – A repercussão do fato na imprensa foi enorme, inclusive no exterior. Em 1982, o médium se envolveu em um episódio ainda mais polêmico: o assassinato do deputado federal Heitor de Alencar Furtado, filho de Alencar Furtado, ex-líder do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), cassado pelo AI-5. O policial José Aparecido Branco era acusado do crime. Mais uma vez, a habilidade mediúnica de Chico Xavier foi utilizada como recurso para esclarecer um crime.

Mensagens psicografadas por Chico e assinadas pelo deputado morto contavam como se desenrolou a morte e sustentavam que tudo tinha sido um acidente. A letra, assinatura e informações trazidas nas mensagens foram reconhecidas pelo pai de Heitor e anexadas aos autos do processo.

Em 1984, depois de mais de 30 horas de julgamento, o Tribunal do Júri de Mandaguari absolveu o policial. O promotor de justiça da 2ª Vara do Tribunal do Júri, Davi Gallo Barouh, explica que a legislação processual brasileira não admite provas consideradas subjetivas, não-materiais, a exemplo das psicografias, que “nada mais são do que uma nova versão dos fatos, narrada pelo espírito de alguém que já morreu”, como definiu.

No entanto, Barouh destaca que, em casos como os que Chico Xavier esteve envolvido, as psicografias foram adicionadas a outras provas e testemunhos. “As mensagens psicografadas podem servir como mais um elemento no acervo probatório e, se cruzadas com outros elementos concretos, podem, sim, auxiliar na resolução de processos penais”, conclui o promotor Davi Gallo Barouh.

[...]
Por Bruna Hercog

domingo, 29 de agosto de 2010

As cartas de Chico Xavier nos tribunais: quatro casos de repercussão internacional


Psicografia como meio de prova documental

De acordo com Weimar Muniz de Oliveira, Presidente da Federação Espírita de Goiás, a psicografia pode ser definida como "um dom mediúnico pelo qual o médium recebe, por via intuitiva ou mecânica, a mensagem de autoria espiritual"1. Na definição do Dicionário Aurélio, "psicografia é a escrita dos espíritos pela mão do médium"2.

Doutrinariamente, pode-se dizer que "prova" é o "instrumento por meio do qual se forma a convicção do juiz a respeito da ocorrência ou inocorrência de certos fatos"3.

No processo penal, com exceção das provas concernentes ao estado das pessoas, cuja comprovação obedece às restrições ditadas pela lei civil (CPP, art. 155)4, todos os demais meios de prova tendentes ao esclarecimento da verdade dos fatos são, em tese, plenamente aceitos.

Entenda-se como "meios de prova" os modos ou instrumentos não defesos em lei, capazes de revelar a verdade, dentre eles as provas testemunhal, documental e pericial (CPP, arts. 155-250).

Nesse contexto, cumpre identificar que meio de prova seria aquele que se obtém com a psicografia.

Em linhas gerais e de forma objetiva, pode-se dizer que, na linguagem jurídica, prova pericial é aquela "realizada ou executada por peritos, a fim de que se esclareçam ou se evidenciem certos fatos"5. Por conseguinte, o "espírito" nem o "médium" – considerado este pela doutrina espírita como "o intermediário entre os vivos e a alma dos mortos"6 – podem ser enquadrados na definição de prova pericial.

Nos termos do art. 202 do Código de Processo Penal, "toda pessoa poderá ser testemunha". Trata-se, porém, "da pessoa natural, isto é, o ser humano, homem ou mulher, capaz de direitos e obrigações"7. Daí que os "espíritos" ou "desencarnados" não podem ser, juridicamente, considerados testemunhas.

Já de acordo com o art. 232 do Código de Processo Penal, "consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares".

A psicografia, por constituir-se manuscrito, pode ser tomada, pela interpretação do citado dispositivo, como sendo documento particular, visto que é "feito ou assinado por particulares" (médium), "sem a interferência de funcionário público no exercício de suas funções"8.

Na esfera penal, tem-se notícia de pelo menos quatro decisões judiciais fundadas em comunicações mediúnicas psicografadas por Francisco Cândido Xavier, de repercussão internacional, e que até hoje geram polêmica no meio jurídico. Cuida-se dos seguintes casos:

a) Dois crimes de homicídio ocorridos em Goiânia (GO): um, no dia 10 de fevereiro de 1976, praticado por João Batista França contra Henrique Emmanuel Gregoris; o outro, no dia 8 de maio de 1976, cometido por José Divino Gomes contra Maurício Garcez Henriques, em que os autores do delito foram absolvidos.

b) Um crime de homicídio havido no Mato Grosso do Sul no dia 1º de março de 1980, praticado por José Francisco Marcondes de Deus contra a sua esposa Gleide Maria Dutra de Deus, ex-miss Campo Grande. João de Deus, condenado por homicídio culposo, teve sua pena prescrita.

c) Um crime de homicídio perpetrado na localidade de Mandaguari (PR), no dia 21 de outubro de 1982, pelo soldado da Polícia Militar Aparecido Andrade Branco, vulgo "Branquinho", contra o então deputado federal Heitor Cavalcante de Alencar Furtado. Neste, embora admitida como prova a mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, na qual o espírito da vítima inocentava o réu pelo tiro que deste recebera, o Tribunal do Júri, por cinco votos a dois, considerou-o culpado, tendo o Juiz de Direito, Miguel Tomás Pessoa, fixado a condenação em oito anos e vinte dias de reclusão.

Recentemente (maio/2006), a imprensa nacional noticiou que, na cidade de Viamão (RS), o Tribunal do Júri absolveu Lara Marques Barcelos, acusada de mandar matar o tabelião Ercy da Silva Cardoso, executado dentro de casa com dois tiros na cabeça na noite do dia 1º de julho de 2003, em face de uma carta emitida pela vítima, pelas mãos do médium Jorge José Santa Maria da Sociedade Beneficente Espírita Amor e Luz9.

(...)

Leia o artigo na íntegra no site "Jus Navigandi".


segunda-feira, 28 de junho de 2010

A cidade dos espíritos

Uberaba tem mais centros kardecistas do que igrejas católicas. Eles atraem multidões de visitantes em busca da comunicação com entes queridos que estão no além


Alexandre Salvador, de Uberaba
Fotos Manoel Marques


Turismo das almas: O médium Celso de Almeida Afonso (à esq.) psicografa uma mensagem por meio de garranchos (abaixo). Ele é um dos sucessores de Chico Xavier, cuja imagem ilustra um outdoor (à dir.) que saúda os visitantes na entrada da cidade

O Brasil é a nação com o maior número de seguidores do espiritismo, a doutrina criada no século XIX por Allan Kardec, pseudônimo do francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, e cuja característica mais divulgada é a possibilidade de comunicação direta entre vivos e mortos. O país tem 2,2 milhões de espíritas declarados, segundo o último censo do IBGE, e outros 18 milhões de simpatizantes, de acordo com a Federação Espírita Brasileira (FEB). Nesse contexto, Uberaba, no interior de Minas Gerais, localizada a 480 quilômetros de Belo Horizonte, pode ser considerada a capital mundial do espiritismo. A cidade, com 290 000 habitantes, conta com mais de 100 centros kardecistas, contra apenas 54 igrejas católicas. A razão pela qual o espiritismo criou raízes tão profundas em Uberaba é o legado do médium Francisco de Paula Cândido Xavier. Chico Xavier se mudou para Uberaba em 1959 e viveu na cidade até morrer, em junho de 2002. Antes de ele se instalar ali, o número de centros kardecistas não chegava a dez.

Ao longo de sua doutrinação, Chico Xavier "escreveu" 412 livros ditados, segundo ele, por espíritos do além. No jargão espírita, são obras "psicografadas". Os primeiros deles eram de poesia, assinados, entre outros, pelo poeta parnasiano Olavo Bilac e pelo naturalista Augusto dos Anjos. Depois, suas obras passaram a divulgar a doutrina kardecista. Chico Xavier afirmava receber vários espíritos. Um dos que mais impressionavam suas plateias era o do médico cearense Adolfo Bezerra de Menezes Cavalcanti, que viveu no Rio de Janeiro no século XIX. Dizendo incorporá-lo, Chico receitava medicamentos – sempre fitoterápicos, para não ser enquadrado em crime de charlatanismo – aos fiéis que o procuravam. Juntos, os volumes escritos pelo médium venderam até hoje mais de 30 milhões de cópias. Sua biografia, As Vidas de Chico Xavier, foi transformada em filme. Um novo longa será lançado em setembro e retratará a história do livro Nosso Lar – seu maior best-seller, com 2 milhões de cópias vendidas. Mesmo após oito anos de sua morte, a influência de Chico Xavier em Uberaba ainda é fortíssima e desperta a curiosidade de milhares de turistas espirituais que visitam a cidade.

Enquanto o médium era vivo, as caravanas chegavam quase que diariamente à cidade. "Não menos de 1 000 pessoas, todas as sextas e sábados", diz o filho adotivo de Chico, Eurípedes Higino dos Reis, que é dentista, mas não exerce a profissão. Hoje, o movimento de fiéis é menor. Mesmo assim, Uberaba é referência para aqueles que buscam pelos discípulos de Chico Xavier para estabelecer uma ponte com a vida após a morte. Nos fins de semana, ônibus de visitantes circulam pela cidade à procura das sessões públicas de psicografia. Quem vai aos centros espíritas quase sempre passou por grande trauma envolvendo a morte. Perdeu de forma trágica ou inesperada um filho, os pais ou um irmão. No ritual, o médium se comunica com esses parentes falecidos, recebe deles uma mensagem e a transcreve no papel.

Os procedimentos são bem parecidos em todos os centros. Os interessados em receber mensagens do plano espiritual devem preencher uma ficha com dados básicos (nome, parentesco, data de nascimento e de morte) da pessoa com quem desejam se comunicar. Em seguida, o médium se fecha numa sala, onde analisa as fichas e tenta estabelecer contato com os espíritos dos mortos. Depois dessa seleção, senta-se em frente à mesa, concentra-se e começa a psicografar. Em média, de cinco a seis cartas são escritas por sessão. Enquanto ele preenche as páginas em branco – trabalho que demora uma hora e meia, para todas as mensagens –, outros membros do centro discursam aos presentes sobre assuntos da fé e da espiritualidade, com base em passagens dos livros kardecistas. Ao final da psicografia, o médium faz a leitura pública das mensagens. Como os garranchos são incompreensíveis, a leitura é gravada.

O momento da leitura das cartas é, de longe, o mais emocionante da sessão. Em quase todas as mensagens, os mortos se referem aos parentes vivos pelo nome. Em algumas, é descrita a causa ou a situação em que o "remetente" morreu ou fornecida alguma informação que, supostamente, seria de conhecimento apenas dos parentes. Esse é um ponto controverso. Nas sessões testemunhadas pela reportagem de VEJA, o médium fez previamente uma pequena entrevista com o interessado em receber a carta. "É um encontro muito rápido, não mais de um ou dois minutos. É um elemento de sintonia", assegura o médium Carlos Antônio Baccelli, do Lar Espírita Pedro e Paulo, um dos mais visitados pelos turistas. Baccelli afirma que Chico também tinha esse tipo de conversa preliminar.

Fé e assistencialismo
O médium Carlos Baccelli no Lar Espírita Pedro e Paulo, que serve de asilo a idosos: mais de 100 livros publicados

Carlos Antônio Baccelli é considerado pelos fiéis que o procuram um dos principais sucessores de Chico Xavier, inclusive nas atividades assistenciais. Ele administra um asilo com trinta idosos abandonados pela família. Baccelli tem mais de 100 livros publicados. Segundo o médium, alguns foram escritos por espíritos e psicografados por ele. Em outros, ele se assume como autor. Mais do que fornecer testemunhos verossímeis de espíritos que se comunicam do além, as cartas têm a função de confortar os parentes dos mortos. "É preciso que as pessoas leiam a mensagem com carinho e não tentem buscar aquilo que elas desejam saber, mas sim ouvir o que a pessoa que está do outro lado pode dizer", comenta o paulista João Roberto Rui dos Santos, que, logo na primeira visita a Uberaba, recebeu uma carta do filho morto em um acidente automobilístico aos 18 anos. Santos já havia perdido outro filho, com apenas 3 meses de idade. Ele admite que forneceu informações ao médium Celso de Almeida Afonso, do Centro Espírita Aurélio Agostinho, mas não tem dúvida de que é seu filho que está se comunicando. "Antes mesmo de dizer qualquer coisa, ele falou que meu avô Luiz está cuidando do meu filho. Eu não havia revelado esse detalhe a ninguém", conta Santos.


Mensagens que confortam
João Roberto Rui dos Santos, a esposa, Carmen, e a filha Marina no Centro Aurélio
Agostinho(à esq): emoção de receber uma carta do filho morto aos 18 anos. O ritual espírita inclui passes de energização (à dir.)





O Grupo Espírita da Prece, centro fundado por Chico Xavier em 1975 e onde o médium trabalhou até o fim da vida, não realiza mais sessões de psicografia. A decisão de encerrar a comunicação escrita com o além foi de Eurípedes Higino, que agora administra o centro espírita e as obras assistenciais criadas por seu pai adotivo. "Ele me transmitiu essa missão. Ele me chamava de ‘último dos moicanos’", diz Eurípedes. É ele quem detém os direitos sobre a memória e o nome de Chico Xavier. A exceção são as obras literárias: o médium cedeu sua parte nos lucros às editoras que publicam seus livros. Às quintas-feiras, a Casa Assistencial Chico Xavier oferece um jantar a mais de 1 000 pessoas, além de doar pão, leite, enxoval para crianças e fornecer orientação médica e odontológica gratuita.

Para as obras assistenciais, Eurípedes conta essencialmente com donativos, a maior parte vinda de um grande empresário do ramo de borracha e plástico do Rio Grande do Sul. Vale-se também da renda de uma pequena livraria montada em frente à casa onde morava o médium. O principal produto à venda são suvenires com a imagem de Chico. Eurípedes atendeu a outro pedido do médium: que abrisse as portas da casa onde morava e a transformasse em um museu. O gesto quase causou o tombamento do único imóvel herdado pelo filho adotivo. Por isso, Eurípedes fez questão de pintar uma mensagem bem terrena na fachada da casa: Casa de Memórias e Saudade Chico Xavier – imóvel de minha propriedade.

O herdeiro e o mentor
O filho adotivo de Chico Xavier, Eurípedes Higino dos Reis, na casa em que viveu o médium: controvérsia ao desmentir que o espírito do pai já tenha se manifestado. O médico cearense do século XIX Bezerra de Menezes (ao lado) receitava remédios por intermédio de Chico.



Eurípedes é uma figura controversa em Uberaba. Nos últimos anos de vida de seu pai, atuava como uma espécie de empresário do médium. Controlava o acesso a ele e escolhia quem podia vê-lo. Depois da morte de Chico, envolveu-se em polêmicas a respeito da autoria de mensagens e até livros atribuídos ao espírito de Chico Xavier. Essas mensagens foram recebidas por vários médiuns do país, inclusive Celso de Almeida e Carlos Baccelli, ambos de Uberaba. Eurípedes nega que seu pai tenha se comunicado com o mundo dos vivos após a morte. "Há mais de 200 mensagens atribuídas a ele, todas falsas", diz.

O que faz o filho adotivo de Chico ter tanta certeza de que as mensagens são apócrifas é o pacto que celebrou com o pai antes de ele morrer. O médium determinou que qualquer mensagem que enviasse ao mundo terreno conteria determinado código. O médico particular de Chico, que coincidentemente tem o mesmo nome do filho, Eurípedes Tahan, e uma amiga, Kátia Maria, são testemunhas desse pacto. Como nenhuma das mensagens carrega o tal código, o filho de Chico as rechaça. A questão do código é posta em dúvida por muitos seguidores do espiritismo. Segundo eles, citando os escritos de Allan Kardec, espíritos superiores, como seria o caso de Chico Xavier, não emitem sinais em códigos. O autor francês, na obra O Livro dos Médiuns, diz que eles se fazem reconhecer apenas pela superioridade de suas ideias. A principal atividade econômica de Uberaba é a pecuária. A cidade abriga uma exposição permanente de gado, a Expozebu. Fora isso, é pacata e não apresenta grandes atrativos turísticos. Por isso mesmo, a prefeitura e o comércio local incentivam o espiritismo. Out-doors com a imagem de Chico Xavier saúdam os visitantes que chegam em busca de conforto espiritual por meio do contato com o além. Para esses forasteiros, Uberaba é a cidade dos espíritos.

FONTE: Revista Veja, Comportamento. Edição 2170 / 13 de junho de 2010.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Mediunidade não está atrelada à esquizofrenia, diz pesquisa

Estudos desenvolvidos no Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (Nupes) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) tentam desvendar um campo ainda de incertezas para a ciência e que tem ganhado destaque na mídia nos últimos meses: experiências espirituais, como a mediunidade.

Desde o ano passado, pesquisadores analisam cerca de cem médiuns de Juiz de Fora para listar critérios para um diagnóstico que diferencie experiências espirituais saudáveis de transtornos mentais, como os psicóticos, pois os dois estados podem se confundir, afirmam pesquisadores. Outro estudo captou imagens do cérebro de médiuns quando psicografavam e quando escreviam um texto de sua autoria, para avaliar quais áreas são ativadas nessa parte do organismo. Já uma pesquisa, finalizada, concluiu que as ocorrências mediúnicas não implicam necessariamente em esquizofrenia, que se caracteriza por delírios e alterações do pensamento e no contato com a realidade.

"Se a pessoa diz que está vendo vultos, será que é uma experiência espiritual não patológica ou alucinação, indicando um transtorno mental?", questiona o professor da UFJF e aluno de doutorado em Saúde Brasileira, Adair Menezes Júnior, para a sua tese em elaboração, que pretende identificar se a experiência espiritual é ou não um transtorno psíquico, para a qual estão sendo entrevistadas as cem pessoas.

O orientador do trabalho, professor da UFJF Alexander Moreira-Almeida, revisou estudos, ao lado de Menezes, apontando nove critérios encontrados para esse diagnóstico que separe o que é uma vivência espiritual do que é um transtorno mental. Em relação à experiência vivida, os nove preceitos são: ausência de sofrimento psicológico; ausência de prejuízos sociais e ocupacionais; duração curta da experiência; atitude crítica (ter dúvidas sobre a realidade objetiva da vivência); compatibilidade com o grupo cultural ou religioso do paciente; ausência de comorbidades; controle sobre a experiência; crescimento pessoal ao longo do tempo e uma atitude de ajuda aos outros. "A presença dessas condições sugere uma experiência espiritual não patológica, mas, por outro lado, há carência de estudos bem controlados testando esses critérios", ressalva o professor.


Esquizofrenia

Em outra pesquisa que reuniu 115 médiuns espíritas, o maior número já investigado em todo o mundo, conforme Moreira-Almeida, autor do estudo, concluiu que as manifestações mediúnicas da maioria dos médiuns começaram na infância e que, atualmente, essas ocorrências não implicam fundamentalmente que a pessoa seja esquizofrênica. Além disso, segundo o trabalho, a mediunidade provavelmente se constitui numa vivência diferente do transtorno de personalidade múltipla.

De acordo com o professor, que é psiquiatra e coordenador do Nupes, a mediunidade foi considerada, pela Medicina, nos séculos 19 e 20, como um grave transtorno mental. Nas últimas décadas, porém, esse conceito desapareceu. "Os médiuns, assim como qualquer pessoa, podem sofrer de transtornos mentais. Mas os estudados exibiram um bom nível de ajustamento social e uma prevalência de problemas psiquiátricos menor do que a população geral", declara.

O principal objetivo do estudo foi definir o perfil sociodemográfico e a saúde mental em médiuns espíritas, além do histórico de suas experiências mediúnicas. Realizado em São Paulo, na época, o trabalho reuniu investigações que apontaram, entre outros dados, que 2,7% dos médiuns entrevistados eram desempregados, 46,5% possuíam ensino superior e 76,5% eram mulheres. Além disso, a média de idade dos entrevistados era de 48 anos e a média de anos no espiritismo, de 16 anos.

A pesquisa foi feita para a tese de doutorado em psiquiatria do professor, na USP, em 2005, intitulada "Fenomenologia das experiências mediúnicas, perfil e psicopatologia de médiuns espíritas", apresentada em congressos em vários países. Moreira-Almeida possui outras pesquisas na área, em andamento, como casos de cirurgia espiritual e estudos históricos de investigações científicas de experiências espirituais.


Funcionamento do cérebro

Em um estudo, em andamento, o professor investiga como é o funcionamento cerebral dos médiuns durante a psicografia, para determinar se esse processo está associado a alterações específicas na atividade cerebral. Foram analisados dez médiuns, sadios, sem transtornos mentais presentes, para comparar a ação de psicografar com a tarefa de escrever um texto de autoria do próprio indivíduo, porém, fora do estado mediúnico. As imagens foram coletadas, em agosto de 2008, na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e estão em análise.


Nupes

Desenvolvimento de pesquisas interdisciplinares de qualidade sobre as relações entre espiritualidade e saúde. Essa é a missão do Nupes, que possui uma ampla rede de pesquisadores em âmbito nacional e internacional. O núcleo, que faz parte do Programa de Pós-Graduação em Saúde da UFJF, trabalha com as seguintes linhas de pesquisa: Epidemiologia da Religiosidade e Saúde; Experiências Religiosas e Espirituais; e História e Filosofia das Pesquisas sobre Espiritualidade. Os principais artigos publicados pelo Nupes podem ser acessados gratuitamente e na íntegra na Biblioteca Virtual em Espiritualidade e Saúde (BVES), pelo site www.hoje.org.br/bves .

Os trabalhos realizados pelo Nupes estão ganhando espaço, transformando-o em referência internacional. Além de diversas publicações nacionais e internacionais, o Nupes tem tido presença ativa em congressos, como no da Sociedade Internacional para o Estudo da Psiquiatria e Cultura, ocorrido no Canadá neste mês. "Participaremos com conferências e apresentações de trabalhos no Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Fortaleza; no Congresso da Associação Americana de Psicologia nos Estados Unidos; e na Associação Mundial de Parapsicologia, na França", afirma o coordenador.

Outras informações: www.ufjf.br/nupes
Assessoria de Comunicação da UFJF

FONTE: Universia , 10/05/2010.

domingo, 20 de junho de 2010

A psicografia como meio de prova

Alaide Barbosa dos Santos Filha
Bacharel pela Universidade São Francisco/SP,
Colaboradora Revista Fonte do Direito.

Notas:
1) Publicado na Revista Fonte do Direito, Ano I, n. 1, Mar./Abr.
2010, p. 57.
2) Para ver a Revista na íntegra acesse: http://www.fontedodireito.com.br/rfd/FD01-marabr2010.pdf

Introdução

A cinebiografia do médium Chico Xavier, lançada no início de abril, já possui uma das maiores bilheterias da história do cinema nacional desde 1995, nos três primeiros dias de exibição, traz como pano de fundo um acontecimento inédito na Justiça brasileira e que até hoje causa polêmica: uma carta psicografada pelo médium Chico Xavier serviu de prova para inocentar um acusado de assassinar seu amigo de infância.

Outras cartas psicografadas pelo médium Chico Xavier também serviram de prova para inocentar outros dois acusados de assassinato. As cartas dos mortos, psicografadas pelo médium, foram admitidas como prova de inocência nos julgamentos. Nos três casos, as mortes foram, segundo os acusados e as cartas, não intencionais. O médium mineiro Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, morreu em 2002 e é considerado um dos lideres religiosos mais influentes do país.

Mais recentemente, tais cartas passaram a servir de material de estudo para a pesquisadora Cintia Alves da Silva, formada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e estudiosa na área de Semiótica e Análise do Discurso. Segundo escreveu ela em seu blog As Cartas de Chico Xavier, o trabalho do médium suscita inúmeras questões: "algumas questões se fazem inevitáveis: o que fez a justiça ter aceitado as cartas recebidas por Chico Xavier? Em quais elementos os juízes dos casos se basearam para inocentar os réus? O que, nessas cartas, foi determinante para que a inocência dos réus fosse sentenciada? Quais critérios foram adotados pelos dois juízes em situações que beiraram o nonsense da jurisdição? Aliás, há razões para supor que haveria qualquer coerência, ainda que interna a esses textos-cartas, que pudesse merecer a atenção da justiça? O que, nessas comunicações, levou a justiça brasileira a adotar cartas recebidas por via mediúnica como meio de prova no tribunal do júri?"

Nossa intenção aqui é aprofundar um pouco o estudo acerca deste tema tão controverso e polêmico: a psicografia como meio de prova.


LEIA O ARTIGO COMPLETO na Revista Fonte do Direito:
http://www.fontedodireito.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=542&Itemid=12

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Antes e depois de Chico Xavier

O historiador Artur Cesar Isaia fala sobre a popularidade de Chico Xavier e a incrível adesão ao espiritismo no Brasil

Vivi Fernandes de Lima

O IBGE garante: 2,3 milhões de brasileiros são espíritas. Pelo menos esse foi o número de pessoas que se declararam adeptas da doutrina no censo mais recente. A bilheteria do filme “Chico Xavier” comprova que o interesse pelo espiritismo é grande: já levou mais de 2 milhões de pessoas aos cinemas em três semanas.

Na RHBN de maio, o texto “Fenômeno eterno” apresenta alguns dos lançamentos ligados ao tema e o quanto as publicações de Allan Kardec (1804-1869) já faziam sucesso no Brasil do século XIX. Nesta breve entrevista, o historiador Artur Cesar Isaia, da Universidade Federal de Santa Catarina, fala um pouco sobre as conquistas e os percalços do espiritismo no país.

A fama de Chico Xavier começou com a publicação de seus livros?
A projeção de Chico Xavier no cenário nacional ganhou impulso com a publicação de Parnaso de além túmulo. Sem dúvida, seu aparecimento polêmico nos anos 1930 e as reedições sucessivas demonstram a importância que o médium passou a ter no cenário religioso e editorial brasileiro. Trata-se de um fenômeno não apenas nacional e que conseguiu extrapolar o movimento espírita, firmando-se como um bem simbólico aceito por diferentes segmentos sociais e denominações religiosas.

O espiritismo chegou a ser associado à doença mental. Chico Xavier foi considerado um doente mental?
Com certeza, à época em que Chico Xavier apareceu no campo editorial e religioso, boa parte da medicina psiquiátrica defendia a idéia de que os médiuns espíritas eram doentes mentais e que o espiritismo era uma "forja de loucos". Mas não havia um consenso entre os médicos quanto à modalidade desta doença. Por exemplo, discutia-se se ela era causada única e exclusivamente pelo espiritismo ou se este apenas servia de desencadeador de uma pré-disposição patológica. Estas eram apenas algumas das possíveis teses que circulavam entre o meio médico brasileiro para associar o espiritismo e, particularmente, os médiuns espíritas à doença mental. Para se ter uma idéia, podemos citar o caso de Henrique Belford Roxo, da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Na década de 1920, ele propôs uma campanha nacional para "extirpar-se" o que julgava ser as causas principais que incapacitavam física e mentalmente os brasileiros: a sífilis, o alcoolismo e o espiritismo.

O filme Chico Xavier já é um sucesso de público. No segundo semestre, será lançado o longa-metragem Nosso Lar, baseado na obra do médium. As livrarias têm diversos títulos sobre ele. O que fez de Chico Xavier uma personalidade tão carismática?
Penso que a aceitação que a figura de Chico Xavier teve e tem entre os brasileiros não está ligada apenas a seu sucesso editorial. Sem dúvida, muito antes do fenômeno Chico Xavier já havia no Brasil um caldo de cultura propício, valorizador do contato entre vivos e mortos. Diversas fontes históricas acenam para a familiaridade com os espíritos em diversas regiões do país, mesmo fora do espiritismo. Os livros tornaram-no bastante conhecido, mas não explicam totalmente o fenômeno. Este prévio "caldo de cultura" no qual se diluíam as fronteiras do visível e do invisível, da vida e da morte, sem dúvida colaborou para que Chico Xavier fosse rapidamente adotado como um bem simbólico entre os brasileiros. Alguns autores como Bernardo Lewgoy e Sandra Stoll sustentam, inclusive a extrema familiaridade da figura de Chico Xavier com valores muito próximos da santidade católica, valores que colaboraram na construção de uma biografia marcada pela renúncia aos bens materiais, pelo celibato e pela assistência social.

A Igreja Católica combatia o espiritismo no início do século XX? E hoje?
Depois do Concílio Vaticano II, a Igreja Católica modificou muito o seu discurso frente às demais religiões. O Concílio enfatizou bem mais aquilo que poderia unir os católicos aos não-católicos, empalidecendo as diferenças. Mas em relação ao espiritismo, persiste uma diferença básica em relação ao catolicismo: a idéia de reencarnação espírita, que se opõe aos chamados novíssimos ensinados pela Igreja (a morte, o juízo, o paraíso e o inferno). Outra coisa, completamente diferente, são as relações vividas. No Brasil, no âmbito dos estudos da História, da Sociologia e da Antropologia, há uma tendência muito grande de a população viver um catolicismo capaz de efetuar composições inusitadas pela teologia. O mesmo acontece com relação ao espiritismo. Pesquisa realizada pelo Datafolha em 2007 ilustra muito bem essa tendência dos brasileiros em extrapolarem as fronteiras doutrinárias de suas convicções religiosas, misturando crenças de forma livre: um número expressivo de católicos acreditava em reencarnação e, igualmente, um número expressivo de espíritas acreditavam em milagres, o que contradiz a obra de codificação espírita feita por Kardec.

Como esse tema é tratado hoje pela academia? Há muitos pesquisadores dedicados ao assunto?
Nas chamadas Ciências Humanas, hoje o tema é mais freqüente na pesquisa acadêmica que há décadas atrás. Tanto como objeto de teses e dissertações, quanto como assunto debatido em reuniões científicas. Penso que isso é um sintoma claro de uma abertura do meio acadêmico a uma realidade extremamente importante para a compreensão da tessitura sócio-cultural brasileira.

FONTE: Revista de História da Biblioteca Nacional - 27/04/2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Carta de Volquimar Carvalho dos Santos


Querida mãezinha, meu querido Álvaro(1). Primeiro a bênção que peço a Deus em nosso auxílio e a bênção que rogo à querida mamãe para que as forças não faltem, agora que tomo o lápis com o auxílio de meu avô(2) para escrever.
Não sei explicar a emoção que me controla todos os pensamentos. É como se voltasse todo o quadro de meses antes à memória.
Tudo me sensibiliza em excesso, tudo me faz recuar para rever o que devo contemplar em mim própria com serenidade. E parece um sonho, mamãe, estarmos juntas, através das letras no entendimento desejado. Não mais o cartão do alfabeto(3) em que os movimentos vagarosos demais nos impedem a idéia de correr como desejamos.
Aqui, é alma para alma nas palavras que anseio impregnar de amor sem conseguir. Peço-lhe não chorem mais o que ficou para trás no tempo, por expressão das Leis Divinas em forma de sofrimento.
Embora isto, sei que a senhora e os nossos pedem notícias. Como foi o inesperado? Muito difícil a revisão. Tudo aconteceu de repente, como se devêssemos todos naquela manhã obedecer, de um modo só, a ordem que vinha do mais Alto, a fim de que a gente trocasse de vida e corpo.
Quando recebi o impacto da notícia do fogo, o tumulto fora da sala não era pequeno. O propósito de fazer com que o trabalho rendesse, habitualmente, nos isolava dos ruídos exteriores. E o tempo de preservação possível havia passado. Atendi automaticamente ao impulso que nascia nos outros companheiros – descer à pressa. E fizemos isso. Elevadores não mais podiam aguardar-nos. A força elétrica sofrera a queda compreensível.
Esforcei-me por atingir algum meio para a descida, mas isso se fazia impraticável. Com alguns poucos que me podiam ouvir, subimos apressadamente para os cimos do prédio. A esperança nos helicópteros estava em nossa cabeça, mas era muito difícil abraçar tantos para o regresso à rua com recursos tão poucos. Entendi tudo e orei. Orei como nunca, lembrando toda a vida num momento só, porque os minutos de expectativa eram para nós um prolongado instante de expectativa sempre menor. Tudo atravessei com a prece no coração. E posso dizer a você, mãezinha querida, que um brando torpor me invadiu, pouco a pouco...
O calor era demasiado para que fosse sentido por nós, especialmente por mim com minudências de registro. Compreendi que não estávamos à beira de uma libertação para o mundo e sim na margem da Vida Espiritual que devíamos aceitar com fé em Deus. E aceitei. Os Amigos Espirituais, destacando-se meu avô Álvaro, comigo durante todo o tempo, não me deixaram assinalar quaisquer violências, naturais numa ocasião como aquela, da parte daqueles que nos removiam do caminho em que se acreditavam no rumo da volta que não mais se verificaria.
Lembrando nossas preces e nossas conversações em casa, procurei esquecer as frases de desespero que se pronunciavam em torno de mim. Essa atitude de prece e de aceitação me auxiliou e me colocou em posição de ser socorrida.
Mais tarde com algumas horas de liberação do corpo, é que despertei ao seu lado(4). Aquele amigo certo que hoje sei nele o meu avô e benfeitor de todos os dias, estava a postos, reconfortando-me..
Estava em meu próprio leito, refazendo energias, e por ele fui informada de que a ilusão de estar no corpo, precisava ser esquecida; que o nosso querido Álvaro, auxiliado por ele, me encontrara a forma física na instituição a que fôramos recolhidos, depois da luta enorme e que não me cabia agora, senão estar calma e forte para fortalecê-la.
Mas que pode se gabar de ser mais forte que os outros numa ocasião qual naquela em que nos vimos todos agoniados e alterados sem qualquer possibilidade de opção?
Chorei muito, mas Deus não nos abandona.
Por alguns poucos dias estive quase que constantemente ao seu lado, até dar-lhe a certeza de que devíamos estar em paz.
Meu avô e outros amigos me ajudaram e prossigo na recuperação necessária.
Os irmãos hospitalizados, os que se refazem dos choques, os que se reconhecem desfigurados por falta de preparação íntima na reconstituição da própria forma e os que se acusam doentes, são ainda muitos.
De minha parte, estou melhorando. Agradeço as suas preces e as orações de Volnéia e de Volnelita, do Álvaro(5) e dos nossos todos, sem esquecer a nossa querida Célia(6) e outras amigas. Todos os pensamentos de paz que me enviam são preciosos agentes de auxílio em meu favor.
Quanto posso, querida mamãe, e auxiliada por enquanto e sempre por amigos queridos daqui, volto ao nosso ambiente familiar. Nossas irmãs e os cunhados José e Wilson sempre amigos, nosso Álvaro, nossos queridos Flávio e Cristiano(7), com a sua imagem materna em meu coração, prosseguem comigo, como não podia deixar de ser.
Estou satisfeita por haver adquirido um apartamento mais compatível com as nossas necessidades(8). Fui eu mesma, com auxílio de meu avô e de outros benfeitores, quem lhe forneceu a idéia de aproveitarmos a ocasião para a compra.
A senhora, querida mamãe, não precisava hesitar quanto ao assunto(9); você sabia que o nosso ideal era sempre o de conseguir o dinheiro para uma entrada que aliviasse o futuro. E não diga mamãe que isso teria implicado na prova que atravessamos. De qualquer modo a sua filha terminara o tempo aí e, na essência, nós ambas sempre tivemos a certeza de que a minha existência seria curta na terra desta vez, em que aí estive(10). O fato de grifar as palavras “desta vez” me consola, pois isso dá a vocês a certeza de que estou em dia com a bênção da reencarnação, na lembrança do que aprendi.
Meu avô e nossos amigos Augusto e José Roberto estão aqui conosco. Agradeço as nossas queridas amigas Yolanda e Helena, Acácia e outras irmãs, pelo incentivo à confiança em Deus que estamos recebendo.
O amor é um milagre permanente. Por ele as afeições se multiplicam e os nossos corações sempre se escoram em novas esperanças para a vitória na vida.
Querido Álvaro, lembre-me como em nossos retratos felizes. Não me recorde desfigurada ou em situação difícil na qual você é induzido a lembrar-me. Querido irmão, atravessamos aquela sombra. Agora, tudo é luz e bênção; seja para a nossa querida mamãe, o que você sempre foi, um companheiro e uma bênção.
Comemoramos os aniversários de meu avô e meu que vocês marcaram com as nossas preces(11). Quero prosseguir escrevendo, mas não consigo.
Mamãe, continue forte e calma na fé. A morte não existe; o que existe é a mudança que, por vezes, quando imprevista, como foi o nosso caso, não é fácil de suportar.
Abraços aos meus pequenos filhos do coração. Não posso esquecer os sobrinhozinhos.
Nossos amigos Augusto e José Roberto(12), já treinados com o intercâmbio na escrita, estão me amparando. Queridas irmãs Yolanda, Helena e Acácia(13), agradeço muito. Querida mamãe, meu querido Álvaro, irmãos e irmãs do coração, Deus os recompense.
Mamãe, ouça-me dando notícias e recorde aqueles recados: Mãezinha, fique tranqüila; mãezinha, estou bem; mamãe, já cheguei do trabalho; mamãe, chegarei um pouco mais tarde. E esteja certa, querida mãezinha, de que com o beijo de todos os dias e carinho de todos os momentos, continua sendo sua, sempre sua, a filha que lhe entrega o próprio coração.

Hoje e sempre a sua

VOLQUIMAR
13 julho 1974


XAVIER, Francisco Cândido. Somos Seis [Espíritos Diversos]. São Bernardo do Campo, SP: GEEM, 1976. p.30-35.

domingo, 18 de abril de 2010

Esclarecimento sobre pesquisa de "A Vida Triunfa"


Com relação às informações contidas na matéria publicada na edição número 277, de abril / 2010, da revista Superinteressante, que podem, por conta de testemunho, colocar em dúvida a autenticidade das mensagens psicografadas por Chico Xavier, o autor do livro A Vida Triunfa, Paulo Rossi Severino, e a presidente da Associação Médico-Espírita de São Paulo, à época, Dra Marlene Rossi Severino Nobre, responsável pela pesquisa, esclarecem que o médium Chico Xavier atendia 60 pessoas, das 14h às 18h, em Uberaba (MG), dispondo, portanto, de quatro minutos, em média, para cada consulente. Este tipo de atendimento passou a ser feito dessa forma, depois da participação do médium no primeiro programa “Pinga-Fogo”, na extinta TV Tupi, em julho de 1971, e se estendeu por cerca de 20 anos, quando o médium teve que interromper o atendimento por longos períodos em virtude de problemas de saúde.


Devido à escassez do tempo de consulta e ao grande número de pessoas a serem atendidas, somente em alguns casos o médium tinha necessidade de conversar um pouco mais com a família, estendendo a entrevista para além dos quatro minutos. Em geral, esse tempo maior era concedido pelo próprio médium, não para obter mais informações da família quanto às circunstâncias da morte, mas para fornecer às mães desalentadas dados que lhe eram revelados naqueles instantes de entrevista por espíritos familiares, ali presentes, que vinham consolá-las e que eram, em sua maioria, desconhecidos do próprio médium.



Conforme consta do capítulo terceiro do livro, “cada entrevista tinha a duração de cinco a dez minutos, tempo exíguo, mas suficiente para que o entrevistado declarasse seu nome e o da pessoa falecida, e, eventualmente, fizesse algum rápido comentário”. Em alguns casos, revela a pesquisa, “durante o breve encontro, o sensitivo registrava a presença, através da clarividência, de parentes falecidos, citando seus nomes ou referindo-se a um fato qualquer relativo ao desenlace ou a problema familiar”.



De qualquer forma, não foram poucos os casos em que pessoas receberam mensagens mesmo sem terem passado por entrevista com o médium. Além de A Vida Triunfa, da Editora FE, há cerca de 130 livros publicados com as mensagens que Chico Xavier recebeu, dirigidas aos que perderam seus entes queridos. É um farto material para aqueles que queiram conhecer histórias autênticas.



Paulo Rossi Severino, autor, e Marlene Rossi Severino Nobre, presidente da Associação Médico-Espírita de São Paulo, em 1990, hoje presidente das associações médico-espíritas do Brasil e Internacional, e uma das autoras da pesquisa computadorizada. 16 de abril de 2010.



Fonte: AME (Associação Médico Espírita) de Santos

segunda-feira, 5 de abril de 2010

As cartas "consoladoras"


100 anos de Chico Xavier: Amigo do médium fala sobre ajuda da psicografia
A morte é e continua sendo um dos maiores mistérios da humanidade. A dor da perda de um ente querido faz as pessoas apelarem para vários caminhos e a psicografia foi a forma de ajuda a este problema mais popularizada por Chico Xavier. Seguindo os princípios da doutrina espírita, o médium dizia receber mensagens de pessoas mortas, ou desencarnadas, como preferia dizer, para seus parentes e amigos.
E, em alguns casos, não se tratava de apenas uma carta, mas sim de várias. No caso de William Machado de Figueiredo, que faleceu em 1941, foram exatamente 33, a maioria destinada a sua mãe, Adélia Machado de Figueiredo. Amiga próxima de Chico Xavier, ela usou as cartas psicografadas como força para continuar vivendo após a perda do filho.
"Minha tia-avó teve uma vida muito difícil. Ela teve que criar os filhos sozinha, porque seu marido morreu e as cartas que ela recebia de William através de Chico foram o bastão que ela usou para seguir vivendo e enfrentando a dor. Lembro que ele tinha o costume de colher flores no túmulo de William e mandar cartas para minha tia-avó com palavras de conforto e uma flor junto", conta Geraldo Lemos Neto, dono da Casa de Chico Xavier, centro cultural localizado na residência onde o médium viveu durante alguns anos em Pedro Leopoldo, no interior de Minas Gerais.
Após a morte da sua tia-avó, em 1982, Geraldo decidiu fazer um livro com uma coletânea de todas as cartas que recebem de William. Como Adélia viveu apoiada nessas mensagens, ele decidiu dar à obra o nome de "Bastão de Arrimo". Lançada em 1984, ela reúne todas as 33 cartas e deve ganhar uma reedição neste ano por conta do centenário do médium.


Emoção em caravanas

Frequentador e membro da "Casa da Prece", centro espírita onde Chico Xavier atendia em Uberaba, Geraldo lembra que multidões compareciam ao local quando o médium participava das sessões de psicografia. Sempre em busca de amparo, as famílias se amontoavam dentro e fora do centro espírita aguardando um alento, por menor que fosse, de um ente querido morto.

"A casa era muito pequena, mas apareciam ônibus de todos os lugares do Brasil. A maioria das pessoas acabava ficando do lado de fora, recebíamos em média umas 500 por sessão. Lembro da emoção de quem recebia uma carta daquelas, da maneira como olhavam para o Chico Xavier", explica Geraldo.

"Lembro que, na maioria das vezes, as cartas eram para pessoas que estavam do lado de fora do centro. As cartas do Chico sempre tinham um remetente e um destinatário. Então íamos gritando o nome pela multidão, ‘carta de cicrano para fulano’, até acharmos para quem era a mensagem. Era impressionante ver a emoção daquelas pessoas", lembra.


Fonte: site Sidney Resende, por Jorge Lourenço.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Curiosidades sobre a produção psicográfica de Chico Xavier


Em minhas buscas por dados quantitativos sobre a obra de Chico Xavier, cheguei ao site dedicado ao seu centenário, produzido pela Federação Espírita Brasileira - FEB.

Na biografia publicada no site, é possível ressaltar algumas curiosidades, que demonstram a singularidade da produção psicográfica do médium:

No ano de 1952, Chico psicografou 2 livros, em 2 dias: Roteiro, de Emmanuel, com 172 páginas e Pai Nosso, de Meimei, com 104 páginas.

No ano de 1963, Chico psicografou 2 livros, em 2 dias: Opinião Espírita, com 204 páginas e Sexo e Destino, com 360 páginas.

No dia 31 de março de 1969 [...], Chico psicografou 2 livros, no mesmo dia: Passos da Vida, com 156 páginas e Estante da Vida, com 184 páginas.

Chico é apontado como fenômeno na aceitação do leitor. Dos dez melhores livros do século, em pesquisa realizada por órgãos da imprensa espírita, sete são da psicografia do Chico. O primeiro lugar coube ao livro Nosso Lar, na 48ª edição, com mais de 1.200 milheiros de exemplares editados.

Fatos como esses somam-se a uma obra de mais de 450 títulos e uma vendagem estimada em 50 milhões de exemplares. Esses números me intrigam... Como ignorar a necessidade de se compreender um objeto (o texto psicográfico, em seus diversos gêneros) que gera um impacto editorial e cultural tão representativo em nosso país?

Referência: http://www.100anoschicoxavier.com.br/paginas/biografia.html

sábado, 27 de março de 2010

Especial 100 anos de Chico Xavier


Assista o Globo Reporter Especial 100 anos de Chico Xavier (4 partes) no YouTube:

Parte 1 - http://www.youtube.com/watch?v=ZDSPiBRsU30

Parte 2 - http://www.youtube.com/watch?v=F-PYd6Hfouw

Parte 3 - http://www.youtube.com/watch?v=lMNbWueyNp8

Parte 4 - http://www.youtube.com/watch?v=Xo3yGBHgFP0


Globo Reporter - 26/03/2010


Cartas psicografadas levam conforto para quem perdeu parente

Mensagens de Chico aliviaram a dor e o luto de milhões de brasileiros. Ainda hoje, pessoas que perderam parentes queridos lotam os centros espíritas à espera de uma palavra.

Um autor com 400 livros publicados, mais de 50 milhões de exemplares vendidos e nenhuma linha redigida por ele mesmo. “Quem escreve, são os espíritos”, dizia Chico. Ele apenas ouvia vozes que ditavam e reproduzia tudo com uma rapidez espantosa.

A psicografia tornou famoso o médium de Uberaba, portador de obras inacreditáveis e de mensagens que aliviaram a dor e o luto de milhões de brasileiros. Ainda hoje, pessoas que perderam parentes queridos lotam os centros espíritas à espera de uma palavra, em Uberaba.

“É muito difícil a gente perder um filho com 21 anos, um menino que gostava de viver plenamente, um filho sem vícios, um filho carinhoso”, diz a funcionária pública Rosane da Silva Denadai.

O casal Marco Antonio e Ana Lucia Davanzo são do Guarujá. O filho deles, Ivan, morreu há mais de quatro anos. “A vida perde o brilho. Você não acha graça em mais nada. Você acha que você nunca mais vai sorrir, nunca mais vai ser feliz”, conta a dona de casa Ana Lúcia Davanzo.

A assistente social Rosana Ozarias Machado ficou sem a mãe. “É um amor tão grande que doía e dói até hoje”, revela.

E eles também ficaram órfãos de Chico Xavier. Quando o médium era vivo, atraia multidões de aflitos. Era incansável, passava mais de oito horas seguidas psicografando. Mas como explicar essa estranha capacidade? Para a ciência, a mediunidade de Chico Xavier permanece um mistério.
“Os fenômenos espirituais mediúnicos do Chico são de uma variedade, de uma diversidade e de uma qualidade extremamente impressionantes. Mas infelizmente ele foi pouco estudado”, diz a professor de psiquiatria Alexander Moreira Almeida, da Universidade Federal de Juiz de For a (UFJF).

A Associação Médica Espírita e o jornal “Folha Espírita de São Paulo” realizaram a única análise já feita das cartas psicografadas de Chico Xavier. Eles pesquisaram 45 casos. “A grande maioria da pesquisa revelou que o Chico desconhecia completamente essas pessoas, mais de 90% dessas pessoas”, explica o professor e pesquisador Paulo Rossi.
E mesmo sem conhecer as pessoas, 71% das cartas tinham mais de três fatos pessoais, coisas que Chico não poderia saber. Em 42% dos casos, as assinaturas eram diferentes das originais. Mas todas as mensagens foram reconhecidas e autenticadas por mais de duas pessoas da família.

Chico era incansável. Mesmo doente e já idoso, não deixava ninguém sem resposta.

“Tenho aprendido, nesse tempo todo, que a mensagem é um fator de informação segura para reconforto e condução espiritual da criatura dentro do seu próprio lar e dentro do seu grupo social”, disse Chico, quando ainda era vivo.

Dois antigos parceiros do médium tentam, hoje, preencher o vazio deixado pelo mestre.

“Chico era uma fonte de sabedoria”, declara o médium Carlos Baccelli. “Lógico que eu amo minha mãe mais do que eu amo o Chico, mas eu não posso dizer que minha mãe me ensinou tanto quanto o Chico Xavier me ensinou”, afirma o médium Celso Afonso.

Seriam eles sucessores de Chico Xavier? “Chico Xavier não tem substitutos, não tem sucessores. Cada um de nós, médiuns, cumpre o seu trabalho, faz o que pode, dentro de suas limitações”, diz Carlos Baccelli.

“Eu não dou conta de amar o quanto ele amou. Eu não dou conta de trabalhar o quanto ele trabalhou. Eu não dou conta de tolerar o quanto ele tolerou. Então, como eu vou ter essa pretensão”, reconhece Celso Afonso.

O casal Marco Antonio e Ana Lucia já completou 14 viagens a Uberaba, em busca das mensagens do filho. Desta vez, eles foram com a filha e as netas. Chegaria mais uma mensagem do filho? Para alívio deles, a primeira carta tinha endereço certo.

Para eles não há duvidas: foi o filho que escreveu. “É dele mesmo, tenho a certeza absoluta. Depois, vêm nomes que só nós sabemos”, destaca a dona de casa. “Tem nomes às vezes até difíceis de escrever e de pronunciar”, confirma o marido.

A funcionária pública Rosane da Silva Denadai explode em lágrimas quando é chamada. “O que ele falou, citando nomes, os avós. Quem ia saber o nome dos avós dele”, afirma.

A assistente social Rosana Ozarias Machado também chora muito. “Eu senti a mesma emoção quando ela faleceu, mas hoje foi de alegria”, comenta. Ela tem certeza de que foi a mãe que escreveu a carta. “Eu não duvidei um minuto de que não fosse a minha mãe de que não fossem as palavras da minha mãe”, aposta.

Rosane que tem outros três filhos até hoje não se conforma com a perda de Anderson. “eu acho que nunca vou me acalmar”, diz.

Mas as palavras que seriam do filho começam a trazer paz. E ela afirma que vai voltar a Uberaba outras vezes. “Porque eu sempre falo: ‘mãe é aquela que gosta de saber onde o filho está, como ele está, onde ele está’”, afirma a funcionária pública.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Folha Ilustrada

O grande negócio dos espíritos

Centenário de nascimento de Chico Xavier, em 2 de abril, motiva onda de filmes sobre tema

Divulgação

O ator Nelson Xavier vive o líder espiritual Chico Xavier no filme de Daniel Filho


ANA PAULA SOUSA
DA REPORTAGEM LOCAL


No mercado livreiro brasileiro, fez-se o milagre da multiplicação. De acordo com a última pesquisa publicada pela CBL (Câmara Brasileira do Livro), o segmento de títulos religiosos, estimado em 50 milhões de exemplares anuais, é, em faturamento, o que mais cresce no país. Nos primeiros lugares dessa fila estão obras espíritas.No cinema nacional, o santo é outro. Mas o milagre é o mesmo. Daniel Filho, em 2009, vendeu 5,6 milhões de ingressos com "Se Eu Fosse Você 2", que só perde em rentabilidade para a avalanche "Titanic".E eis que os números da fé e do cinema se cruzam. Chico Xavier, o líder espiritual que psicografou mais de 400 livros e, se medido pela régua do mercado, poderia ser considerado autor best-seller, tornou-se filme pelas mãos de Daniel Filho.Guardado a sete chaves até aqui, "Chico Xavier" dá início a sua jornada rumo ao público empurrado pela máquina da GloboFilmes e da Sony Pictures. A campanha começou na TV e, a partir da semana que vem, ocupará cinemas, outdoors, ônibus etc. O filme chegará a mais de 300 salas numa data que nada tem de "mera coincidência": 2 de abril, centenário de nascimento de Xavier e Sexta-feira da Paixão. E não é só. Outros seis filmes espíritas estão a caminho.



Filme busca os não espíritas

Na opinião de produtores, filão de filmes ligados ao sobrenatural nunca foi bem explorado no país
Dificuldades na escolha do diretor e na conclusão do roteiro fizeram com que "Chico Xavier" levasse seis anos para chegar às telas



DA REPORTAGEM LOCAL

Os produtores de "Chico Xavier" repetem, feito mantra, que não fizeram um filme espírita. "Tomei cuidado para que não fosse doutrinário", diz o diretor Daniel Filho. "O filme, antes de qualquer denominação que possa segmentá-lo, é uma cinebiografia de uma das personalidades mais conhecidas e queridas dos brasileiros. Foi feito para ser visto por todos que gostam de uma belíssima história de vida", emenda Carlos Eduardo Rodrigues, diretor da GloboFilmes. Daniel Filho diz, inclusive, que buscou colocar no roteiro todas as perguntas que ele próprio, não espírita, faz a si.Mas, intenções à parte, "Chico Xavier", construído sob uma atmosfera de fé e marcado pela adesão emocional ao personagem, é um filme que requer, do espectador, um pacto que passa pela crença. Das cartas enviadas pelos desencarnados - a palavra morte não é utilizada - às aparições do espírito do médico Bezerra de Menezes são muitas as cenas retocadas pelo sobrenatural.Os fios da história são puxados a partir da entrevista que Xavier, morto em 2002, aos 92 anos, concedeu ao programa "Pinga Fogo", da TV Tupi. O vaivém no tempo abarca três fases: infância (Matheus Costa), início da vida adulta (Ângelo Antônio) e maturidade (Nelson Xavier).Esse projeto era acalentado desde 2004, quando o distribuidor Bruno Wainer comprou os direitos da biografia "As Vidas de Chico Xavier", de Marcel Souto Maior. Conseguiu, rapidamente, a adesão da GloboFilmes e da Sony. Mas faltava ao filme uma alma. Ou duas: roteiro e diretor. "Por divergências de visão, não chegávamos a um acordo sobre o diretor", conta Wainer. Nome vai, nome vem, chegou-se a Daniel Filho, até então apenas produtor. Com essa solução teve início outro problema: o roteiro. Foram tantas as versões que até um thriller surgiu."Tentei fazer com que tivesse o tom do livro. O filme tem o ponto de vista do Chico, quando ele conta o que apenas ele via, ouvia e sentia", diz Filho. É esse ponto de vista que, esperam os produtores, pode garantir ao filme um público mais amplo. "O filme do padre Marcelo ["Maria, Mãe do Filho de Deus"] tinha um aspecto doutrinário. "Chico" não tem", compara Braga, da Sony.O interesse da distribuidora hollywoodiana no projeto é, digamos, anterior ao próprio projeto. "Os livros religiosos são tão bem vendidos que sempre me perguntei por que não viravam filme."A prova de que esse filão adormecido tinha potencial veio com "Bezerra de Menezes" que, lançado sem alarde, fez quase 500 mil espectadores. Mas será que quem rejeita o espiritismo verá "Chico Xavier"? "Não sei", responde Braga. O executivo assinala, no entanto, que filmes "sobrenaturais" costumam fazer sucesso no Brasil. "Filmes como "Ghost" e "O Sexto Sentido" fizeram especial sucesso aqui."Atrás do público que, mais do que ao cinema, costuma ir à barraquinha do camelô, o filme não só terá sessões especiais em Uberaba (MG), onde fica o museu Chico Xavier, e Pedro Leopoldo (MG) sua cidade natal, como aproveitará as frestas abertas pelo centenário do personagem. Só a GloboNews tem quatro programas sobre Xavier previstos para março. É o mais famoso médium brasileiro chegando à era da "convergência". (ANA PAULA SOUSA)


(...)


Folha de S.Paulo, 26/2/2010

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Selo do Centenário de Chico Xavier

Em homenagem ao centenário de nascimento de Francisco Cândido Xavier, os Correios farão o lançamento oficial de um selo comemorativo, que ocorrerá no dia 2 de abril de 2010, em Pedro Leopoldo e Uberaba, e no dia 18 de abril em Brasília.

Informação: GEEM
Imagem: Notícias do Movimento Espírita, compiladas por Ismael Gobbo.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

sábado, 23 de janeiro de 2010

Ano Novo, posts novos!


Depois de um longo período sem posts, aqui estou, novamente, desejando que 2010 nos traga grandes oportunidades de aprendizado e crescimento a todos!...

A pausa é justificada, entretanto, pela minha participação no processo seletivo para a pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa da UNESP de Araraquara (SP), que me exigiu alguns meses de preparação mais intensiva. Ingressei como aluna regular no mestrado em novembro de 2009, passo fundamental para prosseguir com a pesquisa que iniciei, de forma independente, em 2008. Sob a orientação do prof. Dr. Jean Cristtus Portela, na área de Semiótica, inicia-se, assim, a etapa formal desta investigação.

O mês que se seguiu às provas foi excelente para descansar e me preparar para a maratona deste ano, em busca, primeiramente, da relação completa de livros que comporiam a obra epistolar de Chico Xavier. Sem listas oficiais - e confiáveis - com classificação de gênero, a caminhada torna-se ainda mais longa (considerando a necessidade de se descobrir quais das 453* obras publicadas até o presente são, realmente, compilações de "cartas familiares"), mas não menos instigante. Desde já, segue a tarefa de assentar os referenciais necessários à compreensão de como essas cartas funcionariam, linguística e discursivamente falando. Ainda mais adiante, há a análise do corpus, que poderia fornecer respostas às questões propostas no projeto. Ou, quem sabe, viria a levantar muitas outras. Sem maiores especulações, agora é lançar mãos à obra.

* Fonte: GEEM, 2009.